domingo, 4 de dezembro de 2011

11/9/01 - O DIA QUE MARCOU UMA DÉCADA

O evento que definiu o início do século 21 chega hoje ao seu décimo aniversário cercado de contradições. Das ruínas do World Trade Center e do Pentágono, atingidos por aviões comerciais e com quase 3.000 mortos, ergueram-se os anos de unilateralismo e militarismo que reafirmaram a condição dos EUA como superpotência -mas que lançaram as bases para a crise econômica e para a divisão política que ameaçam esse status.
Dez anos depois do 11/9, o mundo vê a China assumir maior protagonismo, embora sua interdependência com os EUA dificulte previsões definitivas sobre a decadência do Ocidente.
Osama bin Laden acabou morto, e sua rede Al Qaeda, bastante afetada, mas o terrorismo segue no horizonte e liberdades individuais foram enfraquecidas em nome do combate a ele.
Com estimados 225 mil mortos, as guerras no Afeganistão e no Iraque foram politicamente dadas como encerradas, mas, na prática, os conflitos seguem inconclusos.


Década turbulenta

(...) O mundo é outro, sem dúvida, e a importância dos atentados já seria inegável mesmo que só para expôr ao planeta -e revelar a si mesma- as impotências daquela que reivindicou para si o termo superpotência.
Mas o quanto dessas transformações nasceu ali, e o quanto delas foi apenas catalisado pela tragédia -essa conta, em dez anos, mudou.
"O 11 de Setembro transformou a política externa americana por uma década, e só agora a forma de os EUA lidarem com o mundo está voltando ao normal", diz Charles Kupchan, pesquisador do Council on Foreign Relations.
"Quando examinarmos esse período o veremos mais como uma aberração histórica do que uma transformação histórica", afirma Kupchan, que integrou o Conselho de Segurança Nacional no governo Bill Clinton.
A ascensão chinesa já estava lá, bem como o avanço da América Latina (seja a emergência do Brasil, ou a onda de governos de esquerda) e a perda de peso político da aliada Europa. Os EUA apenas demoraram a notá-los -vácuo hoje mais visto como acelerador, e não causador, do processo.(...)
Em dez anos, o que já se sabe ter sido afetado de forma duradoura é a maneira de os EUA se defenderem e tratarem suas vulnerabilidades. Essa mudança de visão afetou o país em algo que o define: as liberdades civis, antes um paradigma social, cultural e político americano, foram afrouxadas.
Analistas alertam que isso prevalecerá -mais do que a radicalização política que costuma ser atribuída às divisões acirradas na última década, mas surgida antes. O 11 de Setembro tornou os americanos mais lenientes ao atropelamento da Constituição pelo Executivo, à tortura, à supressão de direitos, à prisão sem acusação nem julgamento, a Guantánamo. (...)
A catástrofe econômica amplamente esperada como efeito imediato dos atentados de 11 de Setembro não aconteceu. Ao contrário, a primeira metade da década passada acabou marcada pela prosperidade econômica.
Mas seria ilusório achar que as economias americana e mundial sobreviveram incólumes ao ataque terrorista.Mais do que o evento em si, a reação das autoridades americanas aos ataques criou uma dinâmica de gastos públicos que contribui para a dificuldade que os Estados Unidos enfrentam em reativar sua economia desde a crise financeira de 2008.(...)
Segundo Eric Leeper, professor de Economia da Universidade de Indiana, o governo americano já desembolsou cerca de US$ 1 trilhão com despesas para aumentar seu aparato de segurança após 11 de Setembro. Já a Universidade Brown calcula em US$ 4 trilhões os gastos diretos e indiretos gerados pelas guerras no Afeganistão e no Iraque. Somados, os dois valores representam cerca de um terço do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA, a maior economia do mundo. O elevado dispêndio com segurança é citado como uma das causas principais do rombo nas contas públicas do país.


Como o 11 de Setembro mudou a década

2011: EUA sofrem ataques terroristas
2002: Prisão de Guantánamo é aberta / Bomba mata 202 pessoas em casa noturna de Bali (Indonésia)
2003: EUA invadem o Iraque
2004: George W. Bush é reeleito presidente / Bomba explode em trem em Madri, matando 191 pessoas Saddam Hussein é capturado no Iraque
2005: Caricaturas de Maomé publicadas em jornal dinamarquês geram protestos / Charles de Menezes é morto pela polícia londrina após ser confundindo com terrorista
2006: Lei antiterrorismo autoriza prisões secretas, interrogatórios duros e tribunais militares para suspeitos de terrorismo
2007: Relatório revela que gastos militares no mundo chegaram a U$1,2 trilhão
2008: Jornalista iraquiano joga um par de sapatos contra Bush / Dez ataques em três dias em Mumbai (Índia) deixam 166 mortos / China se torna a maior credora dos títulos dos EUA, cuja dívida explode por causa das guerras
2009: Obama declara fim da guerra do Iraque
2010: Wikileaks divulga telegramas diplomáticos confidenciais dos EUA
2011: Osama Bin Laden é morto no Paquistão pela marinha americana / Bomba num aeroporto de Moscou deixa 35 mortos / Obama define meta de cortar em um terço as importações de petróleo nos próximos dez anos para frear dependência do Oriente Médio
Proposta de Redação

“ Dez anos depois dos brutais atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, a noção de que o episódio mudou o curso da história parece exagerada. Pelo uso de aviões sequestrados como arma, pelo simbolismo dos alvos atingidos e pelo número de assassinados -quase 3.000-, aquele dia se destaca na crônica de horrores do terrorismo. Mas não se pode sustentar que tenha acarretado mudanças duradouras no cenário mundial." (FSP- 11/9/11)

Se, durante a Guerra Fria, havia o medo de uma guerra atômica, agora os países mais avançados sofrem com o medo de atentados – destacando-se aí as restrições às liberdades individuais pela incerteza de se saber quem é, hoje, o inimigo claro.

Escreva um parágrafo apresentando seu ponto de vista sobre o assunto acima.

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