Até os mais pessimistas concordam que o Brasil vive um dos bons momentos de
sua história. Atravessou sem traumas a crise financeira de 2008, provocada
pelos Estados Unidos, e parece fazer o mesmo na atual crise da Europa.
Desde o início do século, a economia brasileira foi beneficiada pelo
duradouro movimento de alta dos preços das commodities em geral, decorrente, em
grande parte, da demanda da China. Por aqui, políticas eficientes de
distribuição de renda, durante muitos anos desprezadas pelo poder público,
acabaram sendo adotadas e deram importante impulso ao mercado interno.
Essa ampliação do consumo interno não ocorreu devido a nenhuma política
genial. Fez-se o óbvio. Aos que sofrem pela miséria ofereceu-se uma renda
mínima, por meio dos programas sociais, para que pudessem pelo menos ter acesso
a itens essenciais. Aos assalariados de baixíssima renda concedeu-se um salário
mínimo mais elevado, com reajustes anuais acima da inflação. Aos demais
cidadãos, ampliou-se a capacidade de acesso ao crédito, ainda que as taxas de
juros continuem altas demais.
Tudo isso se deu em um ambiente econômico de relativa estabilidade
monetária, conseguido desde o lançamento do Plano Real, em 1994.
Não estou aqui para sustentar que o país não tem problemas. Na verdade, tudo
o que foi feito é apenas o começo. Falta um eficiente sistema de educação
pública, o atendimento no setor de saúde é vergonhoso e a infraestrutura
precária exige recursos e agilidade para ser transformada. A própria indústria,
setor no qual sempre trabalhei, encontra-se em um momento crucial, sendo
assolada pela competição externa e sem condições de reagir, à espera de
mudanças no câmbio e nos custos internos.
Mas isso é outra história. O objetivo aqui é lembrar que o Brasil tem,
apesar dos problemas, uma oportunidade histórica de enriquecer. Isso é o que
pensam as pessoas que observam nosso país lá de fora. Há até um sentimento
explícito de inveja nos comentários de quem compara as condições de países
europeus com as do Brasil de hoje.
Se prevalecer o bom-senso, vem aí, com toda certeza, um novo ciclo de
prosperidade, decorrente dos pesados investimentos que estão sendo feitos no
setor de energia, especialmente no de petróleo. A exploração das gigantescas
reservas do pré-sal tendem a proporcionar grande afluxo de riqueza para o país.
Não fosse tudo isso, o país vive um período de bônus demográfico, porque a
maioria da população está em idade economicamente ativa. Há hoje, no país, mais
de 130 milhões de pessoas na faixa de 15 a 64 anos, 67% da população total.
Ter essa parcela da população majoritária em relação à camada de dependentes
(velhos e crianças) é uma dádiva que precisa ser aproveitada, porque ela vai
durar apenas uns 20 ou 30 anos.
Em 2020, segundo as previsões do IBGE, esse bônus demográfico será ainda
maior, quando a população em plena atividade alcançará 71% do total dos
brasileiros. A partir de 2025, o número de idosos começará a crescer, o que
determinará a diminuição gradual dessa vantagem demográfica.
Entre 1965 e 1990, a
Coreia do Sul, por exemplo, passou por um período de bônus demográfico e soube
aproveitá-lo -seu PIB aumentou 88 vezes nesse período, de US$ 3 bilhões para
US$ 264 bilhões. Os chineses se beneficiam neste momento de sua estrutura
etária favorável, decorrência do rigoroso controle de natalidade imposto no
país na segunda metade do século passado.
O Brasil precisa aproveitar essa benesse demográfica. Manter o crescimento
do PIB em pelo menos 5% a 6% ao ano é fundamental. Políticas públicas devem ser
capazes de absorver a mão de obra disponível em grande quantidade e dar
incentivo à produção e à produtividade internas. Além disso, o momento exige
planejamento cuidadoso de políticas para a educação da imensa massa de pessoas
em idade produtiva e para cuidar de sua saúde.
EUA, França, Alemanha, Coreia, Japão e outros países aproveitaram seus bônus
demográficos para enriquecer com democracia. Para o Brasil, pelo menos neste
século, não haverá uma segunda janela demográfica. A oportunidade é agora.
Fonte: BENJAMIN STEINBRUCH - UOL, 28/2/12
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