quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Prova da Fuvest - 2013 (8 questões da 1ª fase)


Texto para as questões de 1 a 3: Vivendo e...

      Eu sabia fazer pipa e hoje não sei mais. Duvido que se hoje pegasse uma bola de gude conseguisse equilibrá-la na dobra do dedo indicador sobre a unha do polegar, quanto mais jogá-la com a precisão que tinha quando era garoto. (...) 
     Juntando-se as duas mãos de um determinado jeito, com os polegares para dentro, e assoprando pelo
buraquinho, tirava-se um silvo bonito que inclusive variava de tom conforme o posicionamento das mãos.
Hoje não sei mais que jeito é esse. Eu sabia a fórmula de fazer cola caseira. Algo envolvendo farinha e água e muita confusão na cozinha, de onde éramos expulsos sob ameaças. Hoje não sei mais. A gente começava a contar depois de ver um relâmpago e o número a que chegasse quando ouvia a trovoada, multiplicado por
outro número, dava a distância exata do relâmpago. Não me lembro mais dos números. (...)
      Lembro o orgulho com que consegui, pela primeira vez, cuspir corretamente pelo espaço adequado entre os dentes de cima e a ponta da língua de modo que o cuspe ganhasse distância e pudesse ser mirado. Com prática, conseguia-se controlar a trajetória elíptica da cusparada com uma mínima margem de erro. Era puro instinto. Hoje o mesmo feito requereria complicados cálculos de balística, e eu provavelmente só acertaria a frente da minha camisa. Outra habilidade perdida.
      Na verdade, deve-se revisar aquela antiga frase. É vivendo e .................... . Não falo daquelas coisas que deixamos de fazer porque não temos mais as condições físicas e a coragem de antigamente, como subir em bonde andando – mesmo porque não há mais bondes andando. Falo da sabedoria desperdiçada, das artes que nos abandonaram. Algumas até úteis. Quem nunca desejou ainda ter o cuspe certeiro de garoto para acertar em algum alvo contemporâneo, bem no olho, e depois sair correndo? Eu já.
(Luís F. Veríssimo, Comédias para se ler na escola)

1)  A palavra que o cronista omite no título, substituindo-a por reticências, ele a emprega no último
parágrafo, na posição marcada com pontilhado. Tendo em vista o contexto, conclui-se que se trata da palavra
a) desanimando.
b) crescendo.
c) inventando.
d) brincando.
e) desaprendendo.

2)  Um dos contrastes entre passado e presente que caracterizam o desenvolvimento do texto manifesta-se
na oposição entre as seguintes expressões:
a) “precisão” (L. 4) / “fórmula” (L. 10).
b) “muita confusão” (L. 12) / “distância exata” (L. 16).
c) “trajetória elíptica” (L. 22) / “mínima margem de erro” (L. 23).
d) “puro instinto” (L. 23-24) / “complicados cálculos” (L. 24-25).
e) “habilidade perdida” (L. 26) / “artes que nos abandonaram” (L. 32-33).

3)  Considere as seguintes substituições propostas para diferentes trechos do texto:
I. “o número a que chegasse” (L. 14-15) = o número a que alcançasse.
II. “Lembro o orgulho” (L. 18) = Recordo-me do orgulho.
III. “coisas que deixamos de fazer” (L. 28-29) = coisas que nos descartamos.
IV. “não há mais bondes” (L. 31) = não existe mais bondes.
A correção gramatical está preservada apenas no que foi proposto em
a) I.
b) II.
c) III.
d) II e IV.
e) I, III e IV.

Texto para as questões de 4 a 6

        A essência da teoria democrática é a supressão de qualquer imposição de classe, fundada no postulado ou na crença de que os conflitos e problemas humanos ņ econômicos, políticos, ou sociais  ņ são solucionáveis pela educação, isto é, pela cooperação voluntária, mobilizada pela opinião pública esclarecida. Está claro que essa opinião pública terá de ser formada à luz dos melhores conhecimentos existentes e, assim, a pesquisa científica nos campos das ciências naturais e das chamadas ciências sociais deverá se fazer a mais ampla, a mais vigorosa, a mais livre, e a difusão desses conhecimentos, a mais completa, a mais imparcial e em termos que os tornem acessíveis a todos.
(Anísio Teixeira, Educação é um direito. Adaptado.)

4)  De acordo com o texto, a sociedade será democrática quando
a) sua base for a educação sólida do povo, realizada por meio da ampla difusão do conhecimento.
b) a parcela do público que detém acesso ao conhecimento científico e político passar a controlar a opinião pública.
c) a opinião pública se formar com base tanto no respeito às crenças religiosas de todos quanto no conhecimento científico.
d) a desigualdade econômica for eliminada, criando-se, assim, a condição necessária para que o povo seja
livremente educado.
e) a propriedade dos meios de comunicação e difusão do conhecimento se tornar pública.

5)  No trecho “chamadas ciências sociais”, o emprego do termo “chamadas” indica que o autor
a) vê, nas “ciências sociais”, uma panaceia, não uma análise crítica da sociedade.
b) considera utópicos os objetivos dessas ciências.
c) prefere a denominação “teoria social” à denominação “ciências sociais”.
d) discorda dos pressupostos teóricos dessas ciências.
e) utiliza com reserva a denominação “ciências sociais".

6)  Dos seguintes comentários linguísticos sobre diferentes trechos do texto, o único correto é:
a) Os prefixos das palavras “imposição” e “imparcial” têm o mesmo sentido.
b) As palavras “postulado” e “crença” foram usadas no texto como sinônimas.
c) A norma-padrão condena o uso de “essa”, no trecho “essa opinião”, pois, nesse caso, o correto seria usar “esta”.
d) A vírgula empregada no trecho “e a difusão desses conhecimentos, a mais completa” indica que, aí,
ocorre a elipse de um verbo.
e) O pronome sublinhado em “que os tornem” tem como referente o substantivo “termos”.

Texto para as questões de 7 a 8:  O samba

      À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento. (...)
      É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes
com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas. Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o
samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudar- se.
     Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...)
(José de Alencar, Til.)
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.

7) Para adequar a linguagem ao assunto, o autor lança mão também de um léxico popular, como atestam
todas as palavras listadas na alternativa
a) saracoteio, brasido, rabanar, senzalas.
b) esperneiam, senzalas, pincham, delírio.
c) saracoteio, rabanar, cangote, pincham.
d) fazenda, rabanar, cinzas, esperneiam.
e) delírio, cambalhotas, cangote, fazenda.

8) Na composição do texto, foram usados, reiteradamente,
I. sujeitos pospostos;
II. termos que intensificam a ideia de movimento;
III. verbos no presente histórico.
Está correto o que se indica em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.

Gabarito:
1.e
2. d
3. b
4. a 
5.e 
6.d
7. c
8.  e




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