segunda-feira, 4 de junho de 2012

Semana 8: Dúvidas no uso do Português?

A festa começa às 8hrs. ou às 8h?



As abreviaturas do sistema métrico não têm plural nem são seguidas de ponto. Assim: 8h, 2km, 5m, 10kg. Para minutos a abreviatura é min: 10h30min. Também se escreve, como nos relógios digitais, 10:30h.


A moça deu a luz a gêmeos ou deu à luz gêmeos?


A expressão é dar à luz – o filho é objeto direto e luz, no sentido de “vida”, objeto indireto: A moça deu à luz gêmeos. Em dois meses ela dará à luz. Também não é próprio dizer (embora faça sentido): Deu a luz a gêmeos.


A nível de diretoria ou Em nível de diretoria?


Em nível de diretoria é o melhor, pois a preposição a não deve ser usada para indicar “lugar em”. A expressão a nível de é um galicismo (ou seja, é imitada do francês) e tem sido empregada abusivamente, aplicada a situações em que é totalmente impróprio falar de níveis, ou seja, de planos ou alturas relativas, ainda que se trate de metáfora. Assim, é descabido dizer coisas como A nível de escola, ela tem tido sucesso. Mais adequado seria dizer Na escola ela tem tido sucesso ou ela tem tido sucesso nos estudos.


A questão não tem nada haver ou a ver com você?


A forma das locuções é não ter nada (ou ter tudo) a ver (ou que ver) com ... Usa-se também de forma absoluta: ter tudo a (que) que, não ter nada a (que) ver. São coloquialismos brasileiros, pouco presentes na linguagem escrita.


A seção foi suspensa ou A sessão foi suspensa?


A palavra sessão tem a mesma raiz do verbo que em latim significa “sentar-se”. Originalmente, indicava o período em que ocorria um evento que reunia pessoas sentadas. Seção, que também se escreve secção, tem a mesma raiz do verbo seccionar, que significa “cortar, dividir”. A mesma raiz, sec, encontra-se nas palavras secante (em geometria), setor (sector), sectário, seccional, secessão, etc., todas envolvendo o sentido de “divisão”. Portanto, seção significa “divisão, parte”, podendo referir-se a uma publicação (seção de classificados, num jornal), obra escrita (capítulo dividido em duas seções), empresa (seção de cosméticos de uma loja ou fábrica), etc. Assim, se um espetáculo foi cancelado, escreve-se que a sessão foi suspensa, mas se o espaço dedicado aos esportes não é mais publicado num jornal, escreve-se que a seção foi suspensa. Não confundir com cessão, “ato de ceder”: A cessão do imóvel foi registrada em cartório.


Andou por todo país ou por todo o país?


Seguido de artigo, todo significa “inteiro”: Andou por todo o país; Toda a turma chegou. Sem o artigo, todo significa “cada, qualquer”: Todo homem é mortal. Posposto ao substantivo, todo significa sempre “inteiro”: Trabalho todo dia e o dia todo.


As pessoas esperavam-o ou esperavam-no?


Quando o verbo termina em -m, -ão ou -õe, os pronomes o(s) e a(s) são precedidos de n: Esperavam-no, dão-no, convidam-nas, põe-nos.


Chegou a ou há duas horas?


Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas (tempo passado) e partirá daqui a cinco minutos (tempo futuro). O atirador estava a pouco menos de 12 metros (distância).
* Observe que, como há indica passado, é redundante a expressão Há dois anos atrás.


Coisas que o dinheiro não trás ou não traz?


Na conjugação do verbo trazer nunca ocorre s: Coisas que o dinheiro não traz. Com s e acento agudo se escreve a preposição ou advérbio trás e, portanto, atrás, atraso, atrasar: banco de trás, andar atrás de algo, chegar atrasado.


É difícil para eu esquecer ou É difícil para mim esquecer?


Mim, no caso, não é sujeito de esquecer, mas complemento de difícil, que rege a preposição para (difícil para mim). A frase, em outra ordem, é Esquecer é difícil para mim. Não confundir com casos em que eu é sujeito do infinitivo: livros para eu ler.


É hora dele chegar ou de ele chegar?


O raciocínio dos gramáticos para vetar, neste caso, a contração da preposição com o pronome é o seguinte: o de não se refere a ele (não se trata de hora dele), mas ao infinitivo chegar (hora de chegar), sendo ele o sujeito. Como o sujeito não deve ser preposicionado, não se deve contrair a preposição com o pronome-sujeito ou com artigo que anteceda o sujeito: É hora de ele chegar, Apesar de o amigo tê-lo convidado... (aqui, o amigo é sujeito de ter convidado).
É proibida entrada ou É proibido entrada?


Se o sujeito não estiver determinado (acompanhado de artigo ou pronome), não se faz a concordância genérica do predicativo: É proibido entrada; Água é bom para a saúde; É necessário ferramentas. Se houver determinação, faz-se a concordância: É proibida a entrada; A água é boa para a saúde; São necessárias estas ferramentas.


Ela mesmo? ou Ela mesma arrumou a sala?


Quando equivale a próprio, mesmo é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala;As vítimas mesmas reclamaram. Como advérbio significa até, também, de fato, exatamente, e é invariável: Mesmo as amigas a deixaram; Foi mesmo uma boa notícia.


Ele foi um dos que chegou ou um dos que chegaram antes?


Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (em outra ordem: Dos que chegaram antes, ele foi um). Pode-se usar apenas dos que: Era dos que mais vibravam com a vitória.


Em vez de entrar, saiu ou Ao invés de entrar, saiu?


Ao invés de entrar, saiu. A locução ao invés de significa “ao contrário, ao revés”: Ao invés de baixar, o preço subiu. Em vez de significa “em lugar de”: Em vez de ir ao cinema, foi ao teatro. Atenção: pode-se usar em vez de nos dois casos (oposição e substituição), enquanto ao invés de só cabe quando se trata de oposição. Portanto, pode-se dizer Em vez de entrar, saiu ou Em vez de chorar, riu, embora nessas frases fosse mais preciso o uso de ao invés de.


Escrever a tinta ou Escrever à tinta?


Ambos se admitem, pois se trata de uma expressão adverbial feminina de meio ou instrumento. O acento grave, indicativo de crase, é empregado, no caso, apenas para efeito de clareza, permitindo, por exemplo, distinguir matar a fome, no sentido de “comer” (fome é objeto de matar), de matar à fome, que significa “matar de fome” (fome é o instrumento ou meio de matar). O acento é dispensável porque a preposição a, na verdade, não sofre crase (fusão) com o artigo a, já que este não está presente – o que se comprova com a observação de que o masculino, na mesma situação, não se acompanha de artigo: escrever a lápis, não ao lápis. Portanto, nestas locuções femininas, apesar de não ocorrer crase, pode-se usar ou não o acento grave (desenhar a mão ou à mão), mas nunca se usa tal acento em locuções adverbiais masculinas (andar a pé, andar a cavalo).


Esse sapato ou Este sapato?


Este (esta, isto) indica o que está próximo de quem fala. Esse (essa, isso) indica o que está próximo da pessoa com quem se fala. Portanto, este sapato é o que estou vestindo ou está perto de mim; esse sapato é o do meu interlocutor ou o que está perto dele. Este indica o presente (este ano em curso) ou o que está adiante ou a seguir (estes exemplos que vou apresentar). Esse indica o passado (esse ano que se encerrou), o que ficou para trás (esses exemplos que apresentei).
* Note-se que, na língua falada, só em registro formal se mantém essa oposição. Na linguagem coloquial brasileira de registro informal, houve uma neutralização (um apagamento) da diferença, pois o grupo consonantal -st- é normalmente pronunciado como -ss-. Em conseqüência, os pronomes esse/essa/isso assumiram as funções antes reservadas a este/esta/isto, daí decorrendo as dúvidas quanto ao emprego de uns ou outros na escrita.


Fazem dois anos ou Faz dois anos?


Fazer, quando exprime tempo, é impessoal, ou seja, não tem sujeito. Portanto, deve-se manter na terceira pessoa do singular:  Faz dois anos que nos conhecemos, Ontem fez quinze dias que aconteceu o acidente.
* Em tempos compostos e locuções verbais formados por verbos impessoais, o verbo auxiliar deve também ser mantido na forma impessoal (terceira pessoa do singular). Assim: Vai fazer cinco anos que a família se mudou, Deve fazer alguns meses que eles não se falam.


Ficou sobre ou sob a mira do assaltante?


Sob, “embaixo de”, é antônimo de sobre. O correto é: Ficou sob a mira do assaltante; Escondeu-se sob a cama; A orquestra tocou sob a regência do maestro X.  Sobre equivale a “em cima de” ou “a respeito de”: Estava sobre o telhado; Falou sobre as eleições.


Há dez anos atrás ou Há dez anos?


Na formação de expressões temporais, o verbo haver é impessoal e tem a acepção de passar-se, ter decorrido, ser decorrido: Há décadas não se usam tais trajes. Portanto, há redundância no acréscimo de atrás ou de qualquer outra palavra que denote tempo decorrido em tais expressões. Para evitar redundância, deve-se usar apenas há dez anos ou dez anos atrás.


Houveram problemas ou Houve problemas?


O verbo haver, no sentido de “existir”, é impessoal, ou seja, não tem sujeito e deve aparecer sempre na terceira pessoa do singular. Portanto, a forma correta é Houve problemas, sendo problemas o complemento (objeto) do verbo, não seu sujeito. A flexão indevida de haver é muito freqüente no Brasil, mas nunca ocorre quando o verbo se encontra no presente, só em outros tempos. Com efeito, ninguém diria Hão dificuldades, mas dizem, equivocadamente, Haviam ou Haverão dificuldades.
* Atenção: se se tratar de locução verbal, o verbo auxiliar será afetado pela mesma impessoalidade, ou seja, deverá sempre ser flexionado no singular: Deve haver mais candidatos, Poderá haver outras exigências.


Ir de encontro ao sucesso ou ao encontro do sucesso?


Trata-se de expressões antônimas: ao encontro de significa “em busca de”; de encontro a significa “em oposição a, para chocar-se com”. Portanto, se o sentido é o de ir à procura, deve-se dizer ir ao encontro do sucesso.


Mal cheiro ou Mau cheiro?


Mal é advérbio e opõe-se a bem. Mau é adjetivo e opõe-se a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mau humor (bom humor), mal-humorado (bem-humorado), mal-intencionado (bem-intencionado), mal-estar (bem-estar). Os advérbios, do ponto de vista mórfico, são invariáveis, portanto: mal-humorados, mal-estares, mal-educadas.
* Em contrapartida, os adjetivos concordam em gênero e número com os substantivos a que se referem: maus cheiros, más-criações, maus elementos.


Meu óculos quebrou ou Meus óculos quebraram?


Têm-se vulgarizado no português coloquial brasileiro as formas meu óculos, um óculos, o que constitui discordância de número. Assim, segundo a norma culta da língua portuguesa, são corretas as formas: Meus óculos quebraram; Aquela loja vende uns óculos bons; Encontrou um par de óculos.


Namorar com Alguém ou Namorar Alguém?


Na tradição da língua, o verbo namorar é transitivo direto, ou seja, seu complemento não deve acompanhar-se de preposição. Assim, os chamados “puristas” condenam a construção namorar com ela, pois o “correto” seria namorá-la. Ocorre, porém, que namorar com é o mais usual no Brasil, aparecendo mesmo em escritores recentes. Portanto, quem quiser falar conforme a língua-padrão tradicional dirá namorá-lo(a); quem não quiser fugir dos hábitos coloquiais brasileiros dirá namorar com ele (ela).


Obrigado ou Obrigada?


Obrigado(a) é a forma reduzida de Estou obrigado(a) a você, ou seja, devo obrigação a você. Portanto, o adjetivo (particípio do verbo obrigar) deve concordar em gênero e número com o sujeito, de que é predicativo. Assim, uma mulher dirá Obrigada. Se se tratar de vários homens ou homens e mulheres, impõe-se o plural Obrigados; se forem apenas mulheres, Obrigadas.


Onde vou ou Aonde vou?


Aonde deve ser usado com verbos de movimento, que “regem” a preposição a: aonde vou, aonde chegaremos. Já onde apenas com verbos de estado, como onde estou.

Pedido à ele ou Pedido a ele?


Crase é “fusão” de duas vogais iguais, geralmente da preposição a com o artigo definido feminino (a). O acento grave sobre o a não é crase, mas indica a ocorrência de crase. Teremos à antes de palavra feminina se antes de equivalente masculino tivermos ao (preposição + artigo masculino). Assim: “pedido a ele” / “pedido a ela” (sem crase), mas “ir ao quarto” / “ir à sala”; “menção ao autor” / “menção à autora”; “referente ao rapaz” / “referente à moça”; “quanto ao problema” / “quantoà questão”.
* Importante: O à é produto de dois aa que se fundiram, na escrita como na pronúncia. Portanto, não é correto pronunciar o a craseado como aa. Não obstante, encontram-se, no Brasil, pessoas instruídas que assim pronunciam, sem consciência do hiperurbanismo que cometem. (Hiperurbanismo é ultracorreção, ou seja, erro que resulta da preocupação desorientada de acertar.)

Porque você foi? ou Por que você foi?


Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado, tanto nas orações interrogativas diretas quanto nas indiretas: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que (razão) você se atrasou. 
Quando no fim do período, usa-se por quê, com acento circunflexo: Você se atrasou, por quê?
Porque é conjunção subordinativa causal e equivale a pois, uma vez que, pelo fato de que: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. / Fui porque me pediram. / Você faltou porque choveu?
Quando empregado como substantivo, usa-se a forma porquê: Quis saber o porquê disso. / Explique-me todos os porquês deste fracasso.


Preferia ir do que ficar ou Preferia ir a ficar?


Segundo a norma culta, o verbo preferir rege a preposição a: Preferia ir a ficar. Como seu sentido é “levar à frente, pôr em primeiro lugar”, condena-se e se considera vulgarismo a construção preferir do que, assim como a intensificação do verbo antes, mais ou até (“prefiro até morrer do que viver”, diz famosa canção). Tais fraseios, no entanto, aparecem em alguns escritores notáveis, portugueses e brasileiros, antigos e modernos.
* Preferível segue a mesma norma: É preferível ir a ficar.


Que seje ou seja feliz?


O presente do subjuntivo de ser e estar é seja e esteja:  Que seja feliz. Que esteja (e nunca “esteje”) alerta.


Saia, se não eu grito ou senão eu grito?


Senão significa “de outro modo”, “do contrário” (Saia, senão eu grito), “a não ser” (Nada faziam senão dormir), “mas” (“Não era prata, senão ferro”). Com o sentido de “defeito, mácula” e em geral com artigo (o, um), pode ser substantivo (Não havia um senão em sua vida).


Se você o ver ou se você o vir?


O futuro do subjuntivo (se eu comprar, quando ele for) forma-se a partir do pretérito perfeito do indicativo. Encontra-se o radical do perfeito retirando-se a terminação –ste da segunda pessoa do singular. No caso do verbo ser, o perfeito é fui, fo-ste. Daí o futuro do subjuntivo (quando/se eu) fo-r, (tu) fo-res, (ele) fo-r, (nós) fo-rmos, (vós) fo-rdes, (eles) fo-rem. No caso de ver, o perfeito é vi,vi-ste. Daí o futuro do subjuntivo vi-r, vi-res, vi-r, vi-rmos, vi-rdes, vi-rem. Quanto ao verbo vir, cujo perfeito é vim, vie-ste, o futuro do subjuntivo é vier, vieres... Assim, o correto é se você o vir; quando eu vier; quando ele disser; se eles estiverem.


Temos menas razões ou menos razões de estar felizes?


Menos, seja como advérbio (choveu menos), seja como preposição (tudo, menos isso), seja como pronome (mais sol e menos chuva), seja como substantivo (o menos é preferível ao mais), é uma palavra invariável. O vulgarismo menas, em função pronominal, “concordando” em gênero com o substantivo seguinte (“isso é menas verdade”), é um caso de hiperurbanismo ou ultracorreção. Ou seja, para evitar uma forma que lhe parece estranha ou errada (como se em menos fé houvesse erro de concordância), o falante inculto a substitui por outra que lhe parece mais correta ou mais culta (“menas fé”).


Tinha chego ou tinha chegado atrasado?


Chego é forma inepta do particípio de chegar, que só tem forma plena (chegado), e não a forma contrata (como aceito, de aceitar). Portanto, o correto é: Tinha chegado atrasado. Dê uma chegada (não um chego) aqui.


Venda à prazo ou Venda a prazo?


Como a crase é a contração da preposição a com o artigo feminino a, não se usa crase diante de palavras masculinas: a prazo, a pé, a cavalo, a lápis. Nessas expressões, o a é simplesmente preposição. A exceção se dá quando está subentendida a palavra moda: Escrevia à (moda de) Machado de Assis, Usava salto à (moda de) Luís XV.


Ver documentos em anexo ou anexos?


Anexo, sendo adjetivo (do particípio de anexar, cuja forma plena é anexado), deve concordar com o substantivo a que se refere: documentos anexos, certidões anexas, isto é, que foram anexados ou anexadas. Trata-se não só de correção, mas também de precisão, pois quando, por exemplo, juntamos documentos a uma carta, não os estamos enviando em outro compartimento, anexo (caso em que se justificaria a expressão adverbial em anexo), mas os colocamos no mesmo envelope, juntamente com a carta, ou seja, anexos a ela.


(Fonte: www.objetivo.br)



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