quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os protestos e a língua portuguesa

           Os recentes protestos da população em várias cidades do país, além de toda a sua natural repercussão, ensejaram alguns comentários em redes sociais sobre os já célebres “erros de português”, ora escritos em cartazes, ora verbalizados.
          Em primeiro lugar, é preciso observar que o que se vê nas situações de espontaneidade é alíngua viva, com a sua gramática, que nem sempre coincide com a norma culta (de prestígio) do idioma. Não há como (nem por que) cobrar o emprego da variante culta no calor das manifestações.
Nos ambientes formais, porém, a história é outra. O repórter que disse que a polícia “interviu” cometeu um desvio do padrão culto que, aliás, está entre os mais comuns, inclusive entre pessoas escolarizadas. O que fez foi regularizar um verbo irregular. Como o passado de “partir” é “partiu”, o de “cair” é “caiu”, o de “construir” é “construiu”, o “natural” seria que o de “intervir” fosse “interviu”. Ocorre, entretanto, que “intervir” é derivado de um verbo irregular, o verbo “vir”, cujo passado é “veio” – por esse motivo, o passado de “intervir” é “interveio”.
           É provável que concorra para a permanência da irregularidade o fato de que “viu” é o passado de outro verbo (“ver”) – e, portanto, a terminação de passado dos seus derivados (“previu”, “anteviu” etc.). Estabelece-se, assim, uma oposição: os derivados de “vir” têm o passado terminado em “-veio” (interveio, adveio, proveio) e os derivados de “ver”, estes sim, têm o passado terminado em “-viu” (previu, anteviu, reviu).
         E atenção: nem todos os verbos terminados em “-ver” são derivados de “ver”. “Escrever”, “descrever”, “absorver” e muitos outros são verbos regulares (escreveu, descreveu, absorveu etc.).


(Fonte: Thaís Nicoleti - UOL educação - 3/7/2013)


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