domingo, 23 de junho de 2013

Porta de Banheiro - Luis Fernando Veríssimo


Um dos abismos da criatividade humana é a porta de banheiro público. Como indicar que uma porta é do banheiro dos homens e outra do banheiro das mulheres sem cair no óbvio? Está claro que este é um daqueles casos em que deviam deixar o óbvio em paz. Mas não. As pessoas insistem em ser originais. Homem e Mulher, Damas e Cavalheiros, Senhoras e Senhores ou simplesmente "H" e "S" não servem. Banheiro é uma coisa que embaraça tanto a todos que a solução é procurada no outro extremo, na falsa descontração e no engraçadinho.  Tenho me dedicado a colecionar exemplos, naquela volúpia pelo inútil que ou acaba em loucura ou em tese sociológica. Vamos lá.
Os camundongos Mickey e Minnie. Inescapáveis. Estes eu já encontrei nos piores antros, em tocante contraste com a sordidez do resto. Mickey e Minnie em alegres e coloridas poses, como se por aquelas portas se voltasse a infância em vez de entrar em asfixiantes câmaras de fedor adulto. Se o estabelecimento estiver caindo aos pedaços você pode ter certeza que na porta para homens haverá uma cartola e uma bengala e na das mulheres uma sombrinha cor-de-rosa. Fred Astaire e Ginger Rogers um dia ainda aparecerão.
Ferdinando e Daisy, claro. Eles e Elas, naturalmente. Machões e Fofinhas, ai de nós. Uma vez num restaurante do Leblon, deparei-me com duas indicações sobre o gênero dos banheiros: um limão e uma laranja. Fiquei uns bons dois minutos ponderando o significado oculto daqueles símbolos cítricos até me dar conta que era apenas "o" limão e "a" laranja. Ou será que a mensagem era outra e eu continuo não entendendo? Outra vez, num restaurante de Greenwich Village, em Nova York, levei outros angustiantes minutos para descobrir que a cara de Karl Marx numa porta tinha a mesma função do camundongo Mickey, não era propaganda. Não cheguei a ver o que havia na porta do banheiro das mulheres. Rosa Luxemburgo, provavelmente.
Este tipo de sofisticação pode levar a confusões. O que fazer quando numa porta está um retrato do Oscar Wilde e na outra o da Gertrude Stein? Mas imagino que num lugar que chegasse a este tipo de sutileza não faria muita diferença. As duas portas dariam para o mesmo banheiro.
Quando a comunicação precisa ser rápida e internacional - em aeroportos, por exemplo -usam-se os símbolo consagrados do bonequinho de calça para homem e do bonequinhode saia para mulher, desprezandose o fato de que    poucas mulheres usam saias atualmente. Também não se cogita de que o eventual escocês de saiote imagine que exista um banheiro só para ele nos aeroportos.

Joãozinho e Mariazinha. Adão e Eva. Barbados e Belezas. Leões, meu Deus, e Domadoras. Laços de fita azul ou fita cor-de-rosa. Um buldogue e uma gata. Mônica e Horácio. Sandra Bréa e Ney Latorraca recortados de uma capa da  Amiga... Você deve conhecer vários outros exemplos. Por favor, não mande nenhum.

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