Instrução: As questões de números 01 a 05 tomam por base um texto de Millôr Fernandes (1924-2012).
Os donos da comunicação
Os presidentes, os ditadores e os reis da Espanha que se cuidem porque os donos da comunicação duram muito mais. Os ditadores abrem e fecham a imprensa, os presidentes xingam a TV e os reis da Espanha cassam o rádio, mas, quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda tão por cima. Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e mandam no society que morre se o nome não aparecer nas colunas.
Todo mundo fala mal dos donos da comunicação, mas só de longe. E ninguém fala mal deles por escrito porque quem fala mal deles por escrito nunca mais vê seu nome e sua cara nos “veículos” deles. Isso é assim aqui, na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Parece que é a lei. O que também é muito justo porque os donos da comunicação são seres lá em cima. Basta ver o seguinte: nós, pra sabermos umas coisinhas, só sabemos delas pela mídia deles, não é mesmo? Agora vocês já imaginaram o que sabem os donos da comunicação que só deixam sair 10% do que sabem?
Pois é; tem gente que faz greve, faz revolução, faz terrorismo, todas essas besteiras. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de comunicação. Aí tua revolução fica xinfrim, teu terrorismo sai em corpo 6 e se você morre vai lá pro fundo do jornal em quatro linhas.
(Millôr Fernandes. Que país é este?, 1978.)
Questão 01) Para Millôr Fernandes, no texto apresentado, os donos da comunicação são
(A) produtores de tecnologia de informação e comunicação.
(B) dirigentes de órgãos governamentais que regem a comunicação no país.
(C) proprietários de veículos de comunicação em massa.
(D) apresentadores de telejornais e programas populares de televisão.
(E) funcionários executivos de empresas de publicidade.
Questão 02) Millôr Fernandes emprega com conotação irônica o termo inglês society, para referir-se a
(A) pessoas dedicadas ao desenvolvimento da sociedade.
(B) pessoas que fazem caridade apenas para aparecer nos jornais.
(C) sociedades de atores de teatro, cinema e televisão.
(D) norte-americanos ou ingleses muito importantes, residentes no país.
(E) indivíduos presunçosos da chamada alta sociedade.
Questão 03) Com a frase "Parece que é a lei", no segundo parágrafo, o humorista tenta explicar que
(A) as pessoas poderosas se unem em sociedades secretas.
(B) o poder dos donos da comunicação parece ter força de lei.
(C) parece que a lei não existe no mundo da comunicação.
(D) o poder dos grandes empresários emana de uma lei que os protege.
(E) as leis não foram criadas para proteger os cidadãos.
Questão 04) As repetições, o uso de palavras e expressões populares, a justaposição fluente de ideias, dispensando vírgulas, e as ironias constantes atribuem ao texto de Millôr Fernandes
(A) tom descontraído e bem-humorado.
(B) dificuldade de leitura e compreensão.
(C) feição arcaica e ultrapassada.
(D) estilo agressivo e contundente.
(E) imagens vulgares e obscenas.
Questão 05) No último período do texto, a discrepância dos possessivos teu e tua (segunda pessoa do singular) com relação ao pronome de tratamento você (terceira pessoa do singular) justifica-se como
(A) possibilidade permitida pelo novo sistema ortográfico da língua portuguesa.(B) um modo de escrever característico da linguagem jornalística.
(C) emprego perfeitamente correto, segundo a gramática normativa.
(D) aproveitamento estilístico de um uso do discurso coloquial.
(E) intenção de agredir com mau discurso os donos da comunicação.
Instrução: As questões de números 6 a 10 tomam por base dois trechos de um artigo de Alexandre Oliva sobre a importância do uso de software na educação.
Software Livre, isto é, software que respeita as liberdades dos usuários de executar o software para qualquer propósito, de estudar o código fonte do software e adaptá-lo para que faça o que o usuário deseje, de fazer e distribuir cópias do software, e de melhorá-lo e distribuir as melhorias, permite que pessoas usem computadores sem abrir mão de serem livres e independentes, sem aceitar condições que os impeçam de obter ou criar conhecimento desejado.
Software que priva o usuário de qualquer dessas liberdades não é Livre, é privativo, e mantém usuários divididos, dependentes e impotentes. Não é uma questão técnica, não tem nada a ver com preço nem com a tarefa prática desempenhada pelo software. Um mesmo programa de computador pode ser Livre para alguns usuários e não-Livre para outros, e tanto os Livres quanto os privativos podem ser grátis ou não. Mas além do conhecimento que foram projetados para transmitir, um deles ensinará liberdade, enquanto o outro ensinará servidão.
[...]
Se o usuário depender de permissão do desenvolvedor do software para instalá-lo ou utilizá-lo num computador qualquer, o desenvolvedor que decida negá-la, ou exija contrapartida para permiti-la, efetivamente terá controle sobre o usuário. Pior ainda se o software armazenar informação do usuário de maneira secreta, que somente o fornecedor do software saiba decodificar: ou o usuário paga o resgate imposto pelo fornecedor, ou perde o próprio conhecimento que confiou ao seu controle. Seja qual for a escolha, restarão menos recursos para utilizar na educação.
Ter acesso negado ao código fonte do programa impede o educando de aprender como o software funciona. Pode parecer pouco, para alguém já acostumado com essa prática que pretende também controlar e, por vezes, enganar o usuário: de posse do código fonte, qualquer interessado poderia perceber e evitar comportamento indesejável, inadequado ou incorreto do software. Através dessa imposição de impotência, o fornecedor cria um monopólio sobre eventuais adaptações ao software: só poderão ser desenvolvidas sob seu controle. Pior ainda: cerceia a curiosidade e a criatividade do educando. Crianças têm uma curiosidade natural para saber como as coisas funcionam. Assim como desmontam um brinquedo para ver suas entranhas, poderiam querer entender o software que utilizam na escola. Mas se uma criança pedir ao professor, mesmo o de informática, que lhe ensine como funciona um determinado programa privativo, o professor só poderá confessar que é um segredo guardado pelo fornecedor do software, que a escola aceitou não poder ensinar ao aluno. Limites artificiais ao que os alunos poderão almejar descobrir ou aprender são a antítese da educação, e a escolha de modelos de negócio de software baseados numa suposta necessidade de privação e controle desse conhecimento não deve ser incentivada por ninguém, muito menos pelo setor educacional.
(Alexandre Oliva. Software privativo é falta de educação. http://revista.espiritolivre.org)
Questão 6) De acordo com a argumentação do especialista Alexandre Oliva, a principal característica de um software livre consiste em
(A) não permitir que o usuário o copie para outro computador ou para terceiros.
(B) apresentar grande facilidade de instalação e uso.
(C) revelar qualidade superior e maior velocidade de desempenho.
(D) ser sempre muitíssimo mais barato que o software privativo.
(E) dar liberdade de acesso e manipulação do código-fonte ao usuário.
Questão 7) Conforme aponta o autor no terceiro parágrafo, um dos problemas dos programas privativos é
(A) sofrerem rápida defasagem, necessitando de atualizações constantes.
(B) exigirem contrapartida para instalações em outros computadores.
(C) apresentarem preço extorsivo para o usuário em ambiente doméstico.
(D) trazerem a marca registrada ou de fantasia da empresa.
(E) não poderem ser devolvidos em caso de ineficácia.
Questão 8) "Crianças têm uma curiosidade natural para saber como as coisas funcionam." No contexto em que surge, no último parágrafo, esta frase aponta um fato que reforça o argumento de Alexandre Oliva, segundo o qual
(A) seria altamente educativo que as escolas utilizassem programas sem limitações de acesso a seu funcionamento.
(B) a educação brasileira necessita, urgentemente, de teorias que estimulem ainda mais a curiosidade infantil.
(C) tanto faz usar um tipo de programa como outro, desde que as crianças sejam consultadas primeiro.
(D) tanto faz usar software privativo como livre, que as crianças sempre dão um jeito de desmontá-lo.
(E) os programas privativos, apesar dos problemas que apresentam, são mais indicados para a educação.
Questão 9) No fragmento do artigo apresentado, em todas as referências a software, a palavra “Livre” aparece com inicial maiúscula e a palavra “privativo” com inicial minúscula. Aponte a alternativa que explica essa diferença em função do próprio contexto do artigo:
(A) Foi seguido o preceito segundo o qual todos os nomes próprios do idioma devem ser escritos sempre com inicial maiúscula.
(B) A maiúscula foi necessária no contexto para ressaltar o fato de que as palavras “livre” e “privativo” pertencem a classes gramaticais diferentes.
(C) O autor escreveu a inicial maiúscula na palavra “livre” sem nenhum motivo justificável em função do texto do artigo.
(D) A inicial maiúscula em “livre” foi empregada como recurso estilístico para enfatizar a grande importância que o autor atribui a tal tipo de software.
(E) Trata-se de um recurso que o autor utilizou, ao rascunhar o artigo, para localizar a palavra “livre” e depois esqueceu de apagar.
Questão 10) " [...] cerceia a curiosidade e a criatividade do educando." A forma verbal cerceia, nesta frase do último parágrafo, significa:
(A) contamina.
(B) reforça.
(C) restringe.
(D) cerca.
(E) estimula
Gabarito:
1) c
2) e
3) b
4) a
5) d
6) e
7) b
8) a
9) d
10) c
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